domingo, 12 de julho de 2009
Almas Gemeas
Nosso primeiro contato foi virtual. Fomos indicados por uma agência de namoro e casamento da Internet (Agência Almas Gêmeas), e tínhamos tudo em comum. Parecia um sonho uma pessoa gostar tanto das coisas que a outra gosta...
Marcamos o primeiro encontro, e foi mesmo engraçado quando falamos o nome do local os dois ao mesmo tempo. E quando o vi pela primeira vez, mesmo sem ter combinado os detalhes que me chamaram a atenção, já sabia que era ele. Mesmo no meio daquela multidão vestida do mesmo jeito, com as mesmas bandeiras, as mesmas camisetas do Corinthians.
Ele estava ansioso, e percebi isso mesmo àquela distância. Vi também quando ele me olhou, e tive a plena certeza que era ele, mesmo sem nunca tê-lo visto. Depois rimos alegres quando ele confirmou a minha suspeita, e eu a dele.
Namoramos pouco tempo. Não precisava mais nenhuma prova para nos conhecermos. As nossas semelhanças não poderiam mais ser consideradas coincidências. Esse termo tinha mesmo que ser substituído pela expressão do nome da agência.
Ele gostava exatamente de tudo que eu gostava. Torcíamos pelo mesmo time, nos agradávamos dos mesmos jogadores, e tínhamos as mesmas opiniões sobre os que eram pernas de pau... Até o nosso grito de guerra parecia um com o do outro.
As cores da maioria das nossas roupas eram as mesmas. E muitas vezes nos divertíamos tendo que combinar de nos vestirmos diferente quando íamos sair, porque quando não o fazíamos, é que parecia que tínhamos combinado.
E as músicas!... Tínhamos o mesmo gosto. Até os mesmos CDs repetidos tínhamos. E os nossos carros que eram das mesmas marcas e das mesmas cores, tinham também os rádios previamente sintonizados nas mesmas estações.
E a comida então! Tranqüilamente, poderíamos deixar que o outro pedisse o prato que escolhesse para os dois. Rimos muitas vezes divertidos com essas ?coincidências? que só mesmo acontecem com duas almas feitas pelo criador no mesmo instante da criação. Combinamos de depois de casados estudar esses fenômenos misteriosos.
Quando nos casamos foi que tivemos um pequeno desentendimento.
Eu queria que ele mudasse para o meu apartamento, e ele queria que me mudasse para o dele. Tivemos que discutir um pouco sobre isso, e resolvemos que moraríamos nos dois, já que eram tão perto um do outro. Mas tivemos um probleminha, porque os nossos apartamentos precisavam de reforma, e não tínhamos dinheiro para reformar os dois.
Então pensamos em uma solução para o impasse. Se fizéssemos uma votação, seria empate. Foi aí que tivemos uma tão brilhante idéia, que rimos por pensar a mesma coisa: nosso time iria jogar se ganhasse seria reformado o meu, se perdesse, o dele. Ele não concordou. Queria o contrário. E ficamos com essa dúvida até o final do jogo, que felizmente empatou para alívio nosso. Alívio, alívio não, porque o impasse continuou.
Depois de um constrangedor silêncio, resolvemos então que venderíamos um dos carros, já que não precisávamos dos dois, porque tudo nosso era perto um do outro. Não houve mais discussão e reformaríamos os dois apartamentos.
E ficamos em paz, até que a dúvida surgiu de repente: qual dos carros seria vendido? Eu queria que fosse o dele, e ele queria que fosse o meu. Depois de muitos dias de novo impasse, resolvemos deixar os apartamentos sem reformas, e ficarmos com os dois carros.
Nos casamos na maior alegria. Jamais tínhamos dormido na casa um do outro. Pensamos igualmente, que isso só aconteceria depois do casamento, porque tanto eu como ele tínhamos uma superstição de que dava azar adiantar as coisas.
Nossa lua-de-mel foi marcada por um outro probleminha justamente por causa dos nossos gostos iguais: queríamos dormir do mesmo lado da cama, mais perto da janela. Conversamos um pouco sobre isso, e chegamos a um acordo, de que essas coisas não poderiam interferir no nosso relacionamento. Concordamos, mas aí os dois queriam dormir do outro lado da cama, e acabamos não dormindo essa noite.
Quando a nossa lua-de-mel realmente começou, surgiu um outro contratempo, mas é uma bobagem muito fácil de resolver: eu gosto de ficar por cima, e ele também. Claro que isso atrapalhou um pouco o nosso relacionamento, porque a essa altura, já andávamos um pouco estressados, e não tínhamos mais condições de ficar discutindo os nossos gostos.
Ficamos uma semana digamos, mais ou menos juntos. Como não tínhamos clima para conversar, queríamos ficar o tempo todo no computador. Mas o que tínhamos era um só, e tivemos uma briga por isso.
Hoje faz uma semana que ele está na casa dele e eu na minha. E vou ter que ligar pra ele para resolver uma questão. Um dos CDs que ficou é exatamente igual ao dele. Mas eu tenho certeza que o meu não tinha nenhum arranhão. Sei que ele vai dizer que o dele também não tinha, porque somos exatamente iguais em tudo. Somos mesmo almas gêmeas.
Autor Adelmario Sampaio
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