sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Quarto em Desordem



Na curva perigosa dos cinquenta
Derrapei neste amor. Que dor! que pétala
Sensível e secreta me atormenta
E me provoca à síntese da flor

Que não sabe como é feita: amor,
Na quinta-essência da palavra, e mudo
De natural silêncio já não cabe
Em tanto gesto de colher e amar

A nuvem que de ambígua se dilui
Nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

Verdade tão final, sede tão vária,
E esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade

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