
Na curva perigosa dos cinquenta
Derrapei neste amor. Que dor! que pétala
Sensível e secreta me atormenta
E me provoca à síntese da flor
Que não sabe como é feita: amor,
Na quinta-essência da palavra, e mudo
De natural silêncio já não cabe
Em tanto gesto de colher e amar
A nuvem que de ambígua se dilui
Nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,
Verdade tão final, sede tão vária,
E esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário:
Postar um comentário