sábado, 12 de setembro de 2009

Porque



Amor, Amor meu, minhas penas, meu delírio,
aonde quer que vás, irá contigo
meu corpo, mas que um corpo, irá um'alma,
sabendo embora ser perdido intento

o de cingir-te forte e de tal modo
que, desde então se misturando as partes,
resultaria o mais perfeito andrógino
nunca citado em lendas e cimélios.

Amor meu, punhal meu, fera miragem
consubstanciada em vulto feminino,
por que não me libetas de teu jugo,
por que não me convertes em rochedo,

Por que não me eliminas do sistema
dos humanos prostados, miseráveis,
por que preferes doer-me como chaga
e fazer dessa chaga meu prazer?


Carlos Drummond de Andrade

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